Acuada pelas críticas recebidas
do Ministério da Agricultura, com o aval do presidente Michel Temer, a Polícia
Federal reagiu à ofensiva contra a Operação Carne Fraca
Pernambuco.com
Os ministros da Indústria, Marcos Pereira, e da Agricultura, Blairo Maggi, reagiram à Operação Carne Fraca. (Foto: José Cruz/Agência Brasil) |
Apesar de não ter se pronunciado oficialmente, agentes e delegados ligados ao caso destacaram que existem informações sigilosas em poder dos investigadores que justificam as ações autorizadas pelo juiz da 14ª Vara Federal de Curitiba, Marcos Josegrei Silva. Eles esperam novos capítulos da apuração a partir de informações ainda em segredo de Justiça, inclusive com o surgimento de delatores.
O juiz responsável pelo caso determinou que a Polícia Federal
apresente até hoje os laudos que serviram de base para a Operação Carne Fraca.
Ele atendeu a um pedido do Ministério da Agricultura. O diretor-geral da PF,
Leandro Daiello, que tratou do tema com Temer e o ministro Blairo Maggi, estava
ciente da existência de autos em sigilo.
Ontem, quando quatro mercados econômicos fecharam as portas para
a carne brasileira, o Planalto e os ministros voltaram a defender que os
problemas apontados pelos investigadores eram pontuais. Blairo alertou, mais
uma vez, que o veto à carne era um grande problema econômico. “Temos aqui 4.850
plantas, mais ou menos, de frigoríficos no Brasil. Ora, só três frigoríficos,
três plantas é que foram interditadas, e, além das três, mais 18 ou 19 serão
investigadas”, disse Temer, ontem, em São Paulo. Agora, o governo vai acionar
diplomatas para tentar conter o estrago.
Um investigador ouvido pela reportagem lembrou que, depois do
fim de semana, quando Daiello esteve com o presidente e Blairo, a ordem foi não
ficar rebatendo declarações num “pingue-pongue” constante. Eles entendem que
uma decisão de 400 páginas do juiz Marco Josegrei atendeu a praticamente todos
os pedidos da polícia, com o aval do Ministério Público. E isso demonstraria a
legalidade da ação.
Ontem, a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef)
rebateu as críticas do governo e dos empresários. “Na intenção de proteger
setores do mercado e do governo, há uma orquestração para descredenciar as
investigações de uma categoria que já provou merecer a confiança da sociedade”,
afirma uma nota da entidade. “O trabalho técnico investigativo não deve ser
maculado por eventual interpretação dissociada da verdade dos fatos”, afirma o
presidente da Fenapef, Luís Boudens. Ele criticou o tom “midiático” do delegado
Maurício Moscardi na entrevista coletiva da operação.
Alguns delegados chegaram a questionar a quantidade de homens na
operação e alguns equívocos na divulgação. O presidente da Associação Nacional
dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, classificou
como um “erro” a forma como a operação foi divulgada.
“Acho que houve um equívoco da comunicação da direção-geral
quando afirmou que foi a maior operação da Polícia Federal sem explicar que é a
maior em quantidade de mandados, mas não em valores, investigados e relevância,
dando a entender que foi maior do que pode ter sido. Evidentemente havia
corrupção praticada por fiscais, pode ter problemas alguns frigoríficos, mas
foi um problema sistêmico? Quando coloca que é a maior operação, acho que pode
ter sido um erro de comunicação”, disse.
Ao ordenar as prisões e buscas, o juiz Marcos Josegrei deu um
recado ao negar a interdição do frigorífico da BRF em Mineiros (GO) por suposta
exportação de carnes contaminadas. “A despeito da gravidade dos indícios
coletados, considerando-se que envolvem questões técnicas aprofundadas, com
repercussões inclusive trabalhistas, entendo inviável o deferimento cautelar do
pedido neste momento”, indicou o magistrado.
Ele preferiu ordenar o envio das provas à pasta da Agricultura
para avaliar o tema com propriedade: “Mais prudente autorizar o compartilhamento
desses elementos com o Ministério da Agricultura em Brasília para adoção das
providências administrativas necessárias”.
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